O Estudo da nutrição, um pouco de história e reflexão.
- Tati Espíndola
- 10 de mai. de 2016
- 6 min de leitura

Oi, tudo bem? Quanto tempo não é mesmo?!
Primeiro peço desculpas pela ausência, mas foi por um bom motivo que eu vou te contar já, já...
No final de 2015 descobri que me mudaria aqui para Salvador na Bahia, isso de certa forma me tirou do eixo, juntando isso às festas de final de ano, a ansiedade e aos preparativos da mudança que demoraram bastante, acabei me desconcentrando e o blog ficou em segundo plano.
Logo que cheguei em Salvador, além da experiência de viver em um lugar totalmente novo, um outro projeto meu também se concretizou.
Começava a faculdade de Nutrição.
Nem preciso dizer que mais uma vez o blog ficou em segundo plano, mas aos poucos fui percebendo que faltava um pedacinho de mim, afinal, o ponta pé inicial para minha nova futura profissão foi o Farinha de outro saco, nesse caso, abandoná-lo não fazia sentido nenhum.
Pois bem, aqui estou novamente para dividir com vocês minhas receitas, meus aprendizados e minhas reflexões, a partir de agora este espaço ganha um estilo novo, se antes eu me preocupava em investigar os nutrientes, hoje além disso, quero dividir com vocês um pouco mais da consciência que adquiri nesse tempo longe, que inclui também assuntos não relacionados à comida.
Espero que gostem!
#O que é ser saudável?
Meu primeiro post aqui no blog fazia justamente essa pergunta; Mas afinal, o que é ser saudável?
Muitos meses de estudo e reflexão depois, me faço a mesma pergunta novamente.
Descobri que não há uma resposta conclusiva, e que ser saudável vai muito, mas muito além da dieta, e que esse, é apenas um, dos muitos artigos sobre esse tema que pretendo escrever, porque ser saudável engloba tantos aspectos, que seria injusto sintetizar em um artigo só.
#Você já parou pra refletir sobre sua relação com a comida?
Não a relação sentimental, dessa falaremos em outra ocasião, mas sim a conexão homem-alimento que existe nessa relação.
Eu te convido a pensar no alimento desde o comecinho, lá no solo, porque é de lá que tudo se origina, e se aprofundar em entender, o que seria uma relação com o alimento.
A natureza na sua perfeição trabalha de forma conjunta, onde cada ser vivo co-evolui com as espécies que come, essa relação com muita frequência desenvolve-se para uma interdependência, ou seja, um serve de alimento e em troca o outro espalha suas sementes.
Olha o exemplo das frutas, que quando estão maduras exalam um perfume e mudam de cor, destacando-se entre as demais que ainda estão verdes, ficando atraentes para os animais que as comem.
A semente de uma fruta madura está pronta para germinar, para dar origem a uma nova planta, porém precisa ser transportada até o solo onde vai se desenvolver, ao oferecer uma polpa que serve de alimento para o animal, esse se beneficia do alimento e a semente beneficia-se do transporte, um ajuda o outro.
Ainda com o exemplo das frutas, a evolução ainda permite que as frutas sejam “aperfeiçoadas” em sabor e nutrientes, para que satisfaça cada vez mais as necessidades dos animais, enquanto que gradualmente, o animal desenvolve ferramentas digestivas para aproveitar ao máximo a planta.
Eu acho isso incrível!!
Conseguiu perceber a relação nisso tudo?
Quando eu tive essa percepção, senti de fato o quão desconectada eu estava e ainda estou com o alimento, que todo o respeito que eu achava que tinha pela comida era superficial perto dessa visão.
O fato de refletir sobre os impactos da minha evolução através do que eu como está me fazendo repensar essa relação, ou melhor, estou me dedicando a restabelecer essa conexão.
Ser saudável, entre outras coisas, é o resultado dessas relações, dessa conexão com o alimento, que através do tempo e das experiências que se têm, a comida torna-se ajustada para você e vice-versa. Isso não é incrível?
Mas para tanto, para se reconectar com o alimento é necessário olhar mais a fundo, mudar certas atitudes.
É necessário voltar às feiras, conhecer os produtores locais e apoiá-los, criar sua própria horta de temperos, voltar a cozinhar sua própria comida e por aí vai.
Já experimentou ter uma mudinha de manjericão crescendo na sua cozinha, na sacada ou em qualquer cantinho onde bata sol? Pois tente, comece devagar, mas experimente, comece a praticar essa relação, entenda na prática o que eu estou tentando lhe dizer.
Tem uma frase do Michael Pollan que eu acho incrível.
“Há muito em jogo quando o meio ambiente do alimento de uma criatura muda”. Micheal Pollan – Um manifesto em defesa da comida
Essa frase me diz muito a respeito do que estamos vivendo atualmente, todo o distanciamento que há entre as pessoas e sua comida.
A maneira como a comida é produzida atualmente, deixou de lado sua natureza original e o que comemos hoje não tem nada haver com a comida de nossos bisavós ou tataravós, o novo ambiente que criamos para o nosso alimento, animal e vegetal, tem interferido muito em como nos relacionamos com a com a comida e principalmente, tem impactado negativamente em nossa saúde.
Toda essa mutação no ambiente, como criar animais em confinamento, cultivo em massa de soja, milho e trigo, fez do alimento um objeto de consumo, algo para abastecer a população de forma rápida e em quantidade, sem levar em conta os impactos dessa mudança em nossas vidas.
A industrialização do alimento devasta as culturas alimentares por onde passa, anulando sua identidade e monopolizando nossas escolhas, a industrialização descaracteriza a identidade alimentar dos povos e globaliza, ou seja, padroniza a comida dessas nações.
Imagina comer o mesmo tipo de comida no Brasil e no Japão, absurdo? Pois é isso que a indústria faz, interfere diretamente no direito dos povos escolherem seus próprios alimentos, uma vez que desvaloriza a produção familiar que é diversificada, para produzir apenas milho, soja e trigo transgênicos.
O impacto da industrialização vai muito além da obesidade, pois quanto mais uma comunidade se distancia de suas tradições, mais perde sua sabedoria adquirida ao longo dos séculos pela evolução, nos tornando pessoas dependentes, incapazes de reconhecermos o que é comida de verdade, nos forçando a procurar ajuda especializada para saber o que comer.
Ninguém deveria precisar de ajuda para saber o que comer e o que não comer para ser saudável, mas aposto que você tem ou já teve essa dúvida.
Essa é uma das peças do quebra-cabeça sobre o que é ser saudável.
Reconectar-se com o alimento, estabelecer uma relação, deixar que ao longo da experiência com o alimento, este lhe dê o que você necessita em sabor, saciedade e nutrientes, e que você possa retribuir espalhando suas sementes por aí, fazendo esse ciclo de amor continuar.
Para tanto não é preciso que você volte a morar em florestas, muito menos que se torne fazendeiro, basta que você mude poucas atitudes que eu já comentei, mas vou repetir porque é importante.
Faça suas compras nas feiras (de preferencia orgânicas), converse com os produtores, esse contato com quem produz nos aproxima muito do nosso alimento. Saber como foi manuseado seu alimento, receber esse produto direto de quem produziu, é a certeza da origem e qualidade do que você coloca à mesa, bem diferente dos mercados, onde você não faz ideia de quem plantou, como plantou e muito menos de onde veio.
Você sabia que mesmo os orgânicos dos supermercados podem ter vindo de muito longe, e por essa razão um alimento que deveria ser ótimo, chega à sua casa desvitalizado? Por isso ir à feira é tão importante.
Você não pode ir à feira? Saiba que muitos produtores orgânicos possuem sistema de entrega, faça uma pesquisa e surpreenda-se com a facilidade de comer comida fresca e de qualidade.
Se precisar comprar alguma coisa nos supermercados, fique atendo ao rótulo, evite produtos que contenham ingredientes desconhecidos, impronunciáveis, mais de 5 ingredientes ou que inclua xarope de milho (açúcar) em sua composição.
Cuidado com produtos que aleguem benefícios à saúde, como por exemplo aquela margarina que diz fazer bem ao coração. Bullshit!
Essas “pequenas” mudanças trazem benefícios enormes à nossa vida, tanto para a saúde como para o meio ambiente.
Lembra da co-existência, de espalhar sementes e tudo mais? Quando apoiamos os produtores, estamos colaborando também com o meio ambiente.
Por hoje é isso, mas esse é só o começo da nossa conversa, e se você gostou do nosso papo, deixe seu e-mail aí embaixo, assim eu posso te avisar sempre que houver uma novidade!
Beijo, beijo...
Continua...
Comments